OLGA BONGIOVANNI

04 novembro, 2024
Blog | Brazilianwaves

De macaca de auditório a uma das maiores comunicadoras do Brasil

Olga Bongiovanni, a “macaca de auditório”, como ela mesma se define, iniciou sua carreira no rádio ainda adolescente em Curitibanos, SC. Olga tinha apenas 16 anos, e já era apaixonada pelo universo do rádio. Sempre que podia, ia aos estúdios participar e acompanhar os programas de auditório na cidade catarinense onde morava. Em 1974, a bibliotecária da cidade apresentava um programa de 10 minutos chamado “A História dos Municípios” na rádio Coroados. Um dia a moça faltou e Olga teve a oportunidade de substituí-la, saindo-se muito bem. Ali estava aberta a porta para sua carreira profissional como comunicadora. Durante alguns meses ficou responsável pela atração, que contava informações e curiosidades sobre localidades do seu estado. A experiência a encantou e abriu as portas para uma carreira que se tornaria sua paixão. Gravou muitos jingles enquanto esteve na rádio, e um tempo depois um deles chamou a atenção de um radialista e diretor da Rádio Independência, que a contratou, em 1979, para apresentar o programa “Rádio Mulher”. A atração falava sobre serviços públicos, polícia, receita, comportamento etc. Logo depois, Olga aprendeu a operar a mesa ao apresentar outro programa: “Almoço com Música”. Mas nem tudo eram flores. Olga recorda das dificuldades, e do grande desafio de trabalhar em rádio numa época em que o veículo era um mundo absolutamente masculino. “Eles achavam que podiam fazer tudo com uma mulher dentro da rádio. Achavam que podiam passar a mão, que mulher dentro de uma rádio era tudo puta. Hoje as mulheres não têm ideia do que a gente passou lá. Eu tô falando da década de 70, 80. Não tem ideia do que era entrar em uma rádio. Me desculpem os homens. Tinha gente bacana, tinha, mas era a minoria. A maioria era calhorda.”

Olga lembra que enfrentou também o preconceito por parte das mulheres: “tinha mulher que achava que eu era uma vagabunda. Imagina! Porque não vai pra casa cuidar do marido, dos filhos? Vai ficar falando aí na rádio. Rádio é coisa de homem, não é coisa de mulher! Mas eram essas mesmas mulheres que me davam muita audiência.”

Focada no que queria, e passando por cima desses desafios, Olga se manteve firme, e em 1982, se mudou para Cascavel, oeste do Paraná, contratada pela TV Tarobá, afiliada da Rede Bandeirantes, onde se tornou repórter do Jornal Tarobá 2ª Edição. Depois de 10 anos na emissora, a comunicadora buscou uma nova oportunidade, e foi para a CNT, onde apresentou jornais e outros programas. Em 1997, Olga recebe convite para voltar a trabalhar na TV Tarobá, onde se tornou âncora do jornal noturno. Apenas dois anos depois, a Rede Band a convida para comandar um programa nacional diário, com seu nome: “Programa Olga Bongiovanni”. Um novo desafio que abriu muitas portas, e onde Olga voltou para sua antiga paixão. Mesmo na capital paulista, com um programa na TV que lhe exigia muito tempo e dedicação, Olga não deixou o rádio. Entre 2000 e 2001 apresentou um programa de duas horas na Rádio Capital, e ficava quatro horas no ar ao vivo na Band.

Ao conversar sobre sua trajetória enfatizou o quanto se manteve firme e que nunca desistiu, pois sabia onde queria chegar e o que queria fazer: “ninguém me tirava do foco. Eu tô aqui, e eu sei onde eu quero chegar. Isso sempre pautou a minha vida. Eu sei o que eu quero. E quando eu morava lá em Santa Catarina, lá no fim do mundo, eu sabia que um dia eu ia chegar em São Paulo.”
Entre um dos muitos episódios marcantes de sua carreira, ela destaca o sequestro de Silvio Santos, e a filha Patrícia Abravanel, em 2001. O acontecimento começou por volta das 8h40 da manhã quando ela estava ao vivo na TV, e terminou em torno de 15h30, 16h, quando ela estava na rádio. “Eu saí de dentro do estúdio, comi marmita da TV Bandeirantes até a rádio Capital. Eu fui dentro de um carro comendo uma marmita pra dar tempo. Eu entrava às 16h. Fui com a roupa que eu estava no ar, não troquei nada, fui direto. O desfecho foi dentro do meu programa na rádio, terminei o meu programa com o Sílvio Santos liberado. Fernando Dutra Pinto preso, e acabou o sequestro. Começou e terminou comigo. Bota cansaço. O que me salvou neste dia em que eu fiquei seis, sete horas falando sobre Sílvio Santos foi o meu conhecimento sobre a vida dele e sobre a vida do bandido. Porque quando o Fernando Dutra Pinto teve aquele problema todo com a Patrícia, filha do Sílvio Santos, aquela coisa toda, já tava na mídia o tempo inteiro, e aí eu sabia um pouco da vida do menino, da criação, da mãe, aquela coisa toda problemática. E aí quando aconteceu tudo eu tinha esses ingredientes até a equipe sair lá do Morumbi da Band, se posicionar com link na frente da casa do Sílvio, a primeira entrada da repórter.”

Para Olga, fazer rádio é fazer com que o teu ouvinte enxergue o que você está falando: “você está falando do arroz doce, você tá falando do acidente, do corpo estendido no chão, você tem que falar de um jeito que ele enxergue aquilo que você está falando. Pronto, é isso. No rádio, não existe a voz do silêncio. Não existe. Na tv você fica fazendo caras e bocas. Três, quatro, cinco segundos. Ok. Mas no rádio, três, quatro, cinco segundos é uma enormidade de tempo. Você tem que estar atento a tudo. É mais ou menos assim, apresentador que só sabe ler TP. O TP caiu, acabou. Sem dúvida a minha grande escola foi o rádio. Eu sou apaixonada por ele, quero continuar até que Deus me dê vida, na frente de um microfone de rádio, na frente de uma câmera de TV. Porque eu tenho prazer no que eu faço. Eu sou super feliz.”
Com uma habilidade nata de se conectar com o público, Olga Bongiovanni conquistou audiência cativa em praticamente 50 anos atuando na comunicação. Entre rádio e TV, a pioneira acompanhou toda a evolução tecnológica, e também as mudanças de linguagem e comportamento dos programas e comunicadores.

Atualmente, além de apresentar um programa de entrevistas na TV Evangelizar, uma rede de TV com alcance nacional, a comunicadora segue firme no rádio, apresentando noticiário na CBN de Cascavel. Questionada sobre sua interação com os radialistas e jornalistas mais jovens, ela fala com naturalidade e satisfação sobre essa troca entre gerações:

“Trabalho com pessoas mais jovens e nos damos super bem. Trocamos experiência, pontuo caminhos mais curtos, mais práticos para uma mesma solução, menos tempo, menos ansiedade, em contrapartida tenho a disposição a vontade de fazer dessa galera, e fico feliz quando dizem que trabalhar comigo é um privilégio, é um grande aprendizado, que lhes transmito muita segurança. Isso me responsabiliza ainda mais. Aprender é do dia a dia, é mútuo. Aprendo sempre.”

Com um timbre marcante, e um jeito de falar inconfundíveis, Olga salienta o quanto o rádio foi importante para seu sucesso profissional, e para que deixasse sua marca como comunicadora. “O rádio é mágico, e já foi mais, quando não tínhamos o rádio com imagem. Mesmo assim, essa magia vem através da voz, da interpretação de cada profissional. Aprendi que o ouvinte precisa enxergar o que você está falando, bem mágico isso, eu consigo por exemplo, ver e saber como está o humor daquele profissional. Isso o rádio continua fazendo.”
Quando perguntada sobre o que faz um bom profissional de rádio, Olga declara, sem pestanejar: “amor incondicional a este veículo único.” E lembra, que muitos profissionais, como ela mesma, começaram a trabalhar sem salário, “porque o importante naquele momento era saber que alguém acreditava na gente”, e salienta que grandes profissionais que foram para a TV, nasceram no rádio, como Hebe Camargo e Lima Duarte.

Durante todo esse tempo como comunicadora no rádio e na TV, Olga já fez de tudo: jornalismo, cultura geral, gastronomia, entretenimento, e quando questionada sobre qual foi a personalidade entrevistada por ela que mais marcou sua carreira, ela responde como todo profissional apaixonado que não pensa em parar: “o próximo entrevistado sempre será o melhor.”

Olga Bongiovanni, uma das maiores comunicadoras do país, inquieta, determinada, de personalidade marcante, carismática, tem uma carreira sólida e marcada por muitas conquistas e reconhecimento no rádio e na TV. Inspirando jornalistas e comunicadores até hoje, e com milhares de admiradores, Olga é uma das pioneiras que tivemos o grande prazer de entrevistar para o projeto de roteiro do documentário “Vozes Pioneiras – A Influência e o Papel da Mulher na História do Rádio Paranaense.”