PATRÍCIA FIX – APUCARANA

04 novembro, 2024
Blog | Brazilianwaves

Com a irmã mais nova da rádio ninguém mexe!

Ela era apenas uma estudante do magistério, em 1994, adorava conversar com as amigas, e ouvir a Tina Roma, conhecida locutora nacional da Rádio Transamérica daquele início de década. Fora a brincadeira de imitar a famosa radialista, a adolescente de Apucarana, Patrícia Fix, não tinha outras pretensões como comunicadora, e trabalhar em uma emissora nunca tinha passado pela sua cabeça. Mas eis que numa gincana do colégio, uma das provas era justamente ir até a Rádio local, a Cultura FM – 94,5, para gravar uma chamada sobre a Festa do Folclore, como era chamado o evento anual do colégio.

Patrícia encarou o desafio, gravou o texto de primeira, e já encantou um veterano profissional da emissora que tinha ouvidos treinados para novos talentos. O radialista Adilson dos Santos, que Patrícia chama carinhosamente de tio Adilson até hoje, foi o responsável por entregar o material gravado pela estudante para o então diretor da emissora, João Miguel Kiko. A performance da menina impressionou, e em menos de uma semana, Patrícia recebeu uma ligação da direção da rádio, com um convite para integrar o time de locutores, que na época, era exclusivamente masculino.

O problema é que Patrícia tinha apenas 17 anos, e como era de se esperar, sua família não gostou nada da história, afinal, um ambiente predominantemente dominado por homens não era um lugar “adequado para uma moça”, segundo palavras do seu pai. Mas a jovem gostou da ideia, e insistiu com os pais.

O jeito foi levar a mãe para falar com o Sr. João Miguel Kiko.

Patrícia lembra que da negociação ela só participou como ouvinte, e que entre muitas condições impostas pela mãe para que ela fosse contratada pela rádio, estava a exigência de que o trabalho não atrapalhasse os estudos, e que todos os funcionários deviam tratá-la com o mais absoluto respeito, como se fosse da família, de preferência, como a irmã mais nova.

E o trato foi cumprido. Segundo Patrícia, que não presenciou, mas ouviu de muitos colegas, logo após a reunião com a mãe da recém contratada locutora, o diretor reuniu os colaboradores e determinou as regras: “A partir de hoje, a Patrícia Fix é a irmã mais nova de vocês! E deve ser tratada como tal! Não vou admitir nenhum tratamento inadequado à jovem. Dei minha palavra à mãe dela.”

E foi com esse tratamento respeitoso por parte dos meninos, como ela ainda se refere aos antigos colegas, que Patrícia aprendeu a trabalhar com toda a parte técnica da rádio, e foi ao ar na cara e na coragem. Ela lembra que no início não tinha muitas referências de locutoras, além de Tina Roma, mas em pouco tempo descobriu seu próprio estilo, e começou a chamar a atenção. Tanto que não demorou para que fosse convidada a trabalhar na Rádio Jovem Pan, de Maringá. Mas dessa vez, seu apelo não deu certo, e o pai não cedeu por considerá-la muito jovem para encarar a empreitada de morar e trabalhar sozinha em outra cidade. Sendo assim, Patrícia terminou a escola em Apucarana, e seguiu fazendo eventos e apresentando programas pela rádio, que foi passando por modernização: do cartucho ao DVD, do DVD ao computador, e assim por diante…A tecnologia, como era previsível, chegou também à emissora, e Patrícia não precisou mais fazer alguns trabalhos técnicos, mas a função de operadora, necessária para atuar como locutora, está lá, registrada na sua carteira de trabalho, que ela mostra com orgulho.

Foram 10 anos comandando programas na rádio, que deixou de ser Cultura FM para se tornar Rádio Globo FM. Ao finalizar seu ciclo no veículo, já com 27 anos, Patrícia deixou o Brasil para morar no Reino Unido. Voltou em 2007, e até 2020 não esteve em nenhum veículo de comunicação. Trabalhava na área corporativa, porém sua facilidade e talento para falar com as pessoas e expor assuntos, fez com que se tornasse a apresentadora de praticamente todos os eventos da empresa. Após esse período, Patrícia deixou novamente o país, e hoje mora na França. Com alegria, conta que até hoje, quando visita Apucarana, os conhecidos ainda lembram do seu trabalho, e perguntam em qual rádio ela trabalha atualmente. Ela atribui essa lembrança das pessoas ao fato de ter sido a primeira mulher a ter um programa exclusivo na emissora, e também ao sobrenome Fix, que para a maioria dos ouvintes, era um nome artístico. Na verdade, Fix é sobrenome do seu pai, mas acabou pegando muito bem, tanto que ficou na memória de muitos saudosos ouvintes e colegas, que ainda pedem que Patrícia grave alguns comerciais e chamadas para a rádio.

Trabalhos que ela faz, “só pra matar a saudade”. Assim como um podcast que ela inventou durante o período da pandemia. Episódios que Patrícia criou, gravou, dirigiu, editou e colocou no ar. O nome? “Papo de Banheiro – Tudo que você sempre quis saber sobre nossos papos no banheiro, mas tinha vergonha de perguntar”. Se quiser conferir alguns episódios, que falam de tudo um pouco, é só procurar pelo nome “Papo de Banheiro”, no Spotity, ou nesse link:

Papo de Banheiro | Podcast on Spotify

Com a mudança para outro país, e outras atribuições, Patrícia não conseguiu mais produzir o podcast, mas não descarta a possibilidade de voltar a trabalhar com comunicação, porque, como a gente de rádio bem sabe, esse ofício acaba virando aquela paixão, pela qual sempre temos somos tentados a uma recaída…

Patrícia Fix, de Apucarana, é uma das entrevistadas que tivemos o prazer de conhecer e registrar para o projeto de roteiro do Documentário “Vozes Pioneiras – A Influência e o Papel das Mulheres na História do Rádio Paranaense”.